Um momento triste da nossa história

A fotografia que a seguir publico é de um memorial dedicado ao massacre de Batepá, ocorrido em 3 de fevereiro de 1953.
É um momento muito triste da nossa história como colonizadores.
É bom que as novas gerações não esqueçam estes factos e um tipo de regime que, com todas as nossas forças, devemos evitar que volte.

Aqui reproduzo, com a devida vénia, o texto da jornalista e escritora Diana Andringa, publicado no blogue Caminhos da Memória em 4/fev/2009:

"Ontem, 3 de Fevereiro, passaram 56 anos sobre os acontecimentos que ficaram conhecidos como Massacre de Batepá. Agitando o perigo de uma conspiração comunista visando criar um governo dos nativos de S. Tomé, o governador Carlos Gorgulho fomentou uma onda de repressão que resultou num número ainda hoje indeterminado de mortos.

Muitos foram abatidos a tiro, em verdadeiras caçadas levadas a cabo por milícias de voluntários. Diversos foram queimados. Alguns morreram asfixiados em celas demasiado pequenas para o número de presos que continham. Muitos foram sujeitos a trabalhos forçados na praia de Fernão Dias. Um dos castigos consistia em «vazar o mar»: presos com correntes, eram obrigados a entrar no mar para encher grandes selhas de água salgada, apenas para as despejar em terra, pouco depois.

Interrogados sob tortura, chicoteados, submetidos à utilização de uma cadeira eléctrica, os presos eram obrigados a confessar o seu envovimento numa revolta que pretenderia matar o governador e os colonos e distribuir entre si as mulheres brancas. Mais tarde, a própria PIDE havia de negar a existência da conspiração referida pelo governador.

"Crónica de uma guerra inventada", de Sum Marky, retrata esses acontecimentos, a que a poetisa Alda Espírito Santo dedicou, entre outros, o poema "Onde estão os homens caçados neste vento de loucura".




5 comentários:

  1. Olá Caro Dr. Jorge Costa Reis – Este comentário vai ser reproduzido no meu site, em resposta ao seu amável comentário, e também no seu blogue – As minhas viagens São Tomé e Príncipe - Pois, aqui estou, com muito gosto, a transmitir-lhe o meu agradecimento e a minha impressão - Já sei que é médico - Esta não é uma profissão como as outras. Tive o prazer de entrevistar para a Rádio Comercial (então da RDP) e ser amigo de Bernardo Santareno e de Fernando Namora – Estive em casa do autor do Trigo e o Joio, por várias vezes. Mesmo no ano em que ele faleceu. Ele também era um excelente pintor, mas de que não quisera fazer gala, dada a sua simplicidade. Ambos, pessoas e escritores de rara sensibilidade. Vejo que, além de ser um excelente fotógrafo, escreve muito bem e é um bom observador. Vou pois começar por ler esta postagem e ver a fotografia que reproduziu do monumento dedicado ao massacre do Batepá, a que também me refiro em Odisseias nos Mares. De facto, não há palavras para transmitir a barbaridade que, em Fevereiro de 1953, se abateu sobre o indefeso Povo de S. Tomé. Eu só tomei conhecimento, verdadeiramente deste drama, após o 25 de Abril. Era então correspondente da Semana Ilustrada, de Luanda, tendo publicado vários textos e entrevistas a algumas das martirizadas vitimas: desde o homem Cristo, que logrou sobreviver de uma cela onde mais de uma trintena de homens morreram asfixiados, tendo-se salvado unicamente ele, pese o facto de ter sido crivado de balas. Também entrevistei o verdugo José Mulato, que teve o descaramento de me afirmar que tinha sido uma máquina bruta a matar”. Mas que não sentia remorsos, visto estar a cumprir ordens. Conheci pessoalmente, Sum Marques, estive em sua casa em Algés, tendo também entrevistado para a Rádio Comercial. Sem dúvida, um excelente escritor e um homem corajoso – Hoje vou ficar por aqui. Pois estou a fazer uma direta e ainda não me deitei. Mas prometo que vou ser um leitor muito atento do seu blogue. Tanto mais que me traz informação atualizada. Eu já não vou a S. Tomé há muitos anos e conto lá ir ainda este ano para matar saudades. Um abraço amigo, com muitos parabéns pelas fotos e especial atenção e carinho que dedicou a estas Ilhas, que eu amo como se fossem o meu torrão natal

    ResponderEliminar
  2. Boa Tarde.

    Já algum tempo que queria ver este blog.

    Finalmente consegui.

    Adorável.

    Não há nada melhor de que ler, e ter a sensação de que --- ops!! É possível partilhar informação. Uma informação cuidada, sem pretensão de ir mais além. Escreve de forma clara e transparente, acompanhada de fotos de ampla qualidade.

    O Massacre de Batepé, foi um horror. Um horror silenciado. Silêncio que agora não tem razão de ser, se as pessoas querem que a história seja um relato fiel da realidade. Não sei se querem!

    Já se passaram muitos anos. Sobre o tema, apenas ouviu uma reportagem na RTP em que tinha voz - Alda Espírito Santo.

    Fez um relato claro e muito fiel, já que alguns familiares (antepassados) seus foram vitimas do Massacre.

    Em relação a este comentário, deixo aqui uma breve referência:

    Claro que antes do 25 de abril, eram poucos os conhecedores do que se passava além mar... Outros sabiam, mas outros interesses se levantavam. E, é aqui... que entra uma pequena novidade (creio eu..) a intervenção do Dr. Palma Carlos, que ainda no período de maior revolta e de maior silêncio teve a coragem de aceitar a defesa de uma família endinheirada Santomense.

    O Dr. Palma Carlos, - advogado - numa primeira tentativa e em resposta a denúncia e defesa dessa família, aterrou no aeroporto de S. Tomé, mas, nem sequer chegou a sair do avião.

    A história deve ser feita por relatos dos dois lados. Nunca vi um comentário sobre este tema, com testemunhos dos familiares das vítimas.

    Ainda bem que não ouvi a entrevista que o comentador acima fez... porque parece dar mais valor ao título dos entrevistados do que ao conteúdos. Entrevistar alguém que diz "tinha sido uma maquina bruta a matar" - não acrescenta nada a verdade e não altera nada o resultado que todos nós sabemos de um "Massacre".

    Finalizo por dizer: Conheço muito bem S. Tomé e não é de agora.





    ResponderEliminar
  3. Meus Amigos
    Muito obrigado pelas vossas visitas e sobretudo por aquilo que acrescentaram ao meu relato e aos meus conhecimentos.
    São uma fonte enriquecedora que agradeço

    ResponderEliminar
  4. caros senhores...tenho novidades para muito breve, pois estou a escrever um romance em que tudo o que atrás foi dito
    para que fiquem sabendo, Zé Mulato era José Brigada, que foi transferido para S. Tomé a fim de cumprir pena pela morte da mulher...mais tarde e aquando do Massacre de Batepá ou da Tindade, foi escolhido por Carlos Gorgulho, governador da província de S. Tomé, para se tornar no carcereiro-mor e carrasco do Campo de S. Nicolau onde matou dezena e dezenas de nativos Santomenses

    ResponderEliminar
  5. Conheci também pessoalmente o Sr. José Mulato - Tendo-o entrevistado para a Semana Ilustrada de Angola. Como estava prestes a partir de canoa para de S. Tomé para a Nigéria, não transcrevi a entrevista para o papel, mandei a cassete. Não foi publicada. Desconheço as razões. Mas de uma afirmação jamais me esquecerei: "Eu fui uma máquina bruta a matar!" - Matei mais de mil a pontapé, a soco e à machinada!". Esse verdugo confessou-me, sem o menor remorso, alegando que cumpria ordens, as maiores barbaridades - Teve sorte escapar-se para portugal - O povo de S. Tomé é pacífico mas ele, como filho da terra que era, mais de que um criminoso carrasco, foi um tirano, um traidor, pelo que ultrapassou todos os limites possíveis da tolerância.. Embarcou disfarçado e através da chamada "porta do cavalo"

    ResponderEliminar